Hiper e Hiporresponsividade Sensorial no TEA: Como Dosar Estímulos e Prevenir Overload na Sessão

A sensorialidade é um dos pilares fundamentais da prática clínica com crianças no Transtorno do Espectro Autista (TEA). Muitas vezes, quando falamos em desafios motores ou comportamentais, estamos olhando apenas a ponta do iceberg. A base, silenciosa, está na forma como a criança recebe, processa e responde aos estímulos do ambiente. É por isso que entender hiperresponsividade (respostas exageradas a estímulos) e hiporresponsividade (respostas diminuídas ou atrasadas) é essencial para o fisioterapeuta pediátrico.

Como diferenciar hiper de hipo?

  • Hiperresponsividade: a criança cobre os ouvidos diante de sons comuns, rejeita texturas específicas, evita contato físico ou reage de forma intensa a luzes e cheiros. O sistema nervoso funciona como se estivesse em "modo alerta" o tempo todo.

  • Hiporresponsividade: a criança parece não perceber estímulos que normalmente chamariam a atenção. Não reage quando é chamada pelo nome, procura estímulos intensos (como se jogar contra objetos, girar sem parar ou buscar pressão profunda).

Na prática clínica, é comum que uma mesma criança apresente mistura de perfis, sendo hipersensível em alguns canais (auditivo, tátil) e hipossensível em outros (vestibular, proprioceptivo).

O desafio da dosagem de estímulos

O erro mais comum do terapeuta é achar que quanto mais estímulo, melhor. Na verdade, o segredo está no timing e na dosagem. Um excesso pode levar ao chamado sensory overload (sobrecarga sensorial), que desencadeia comportamentos de fuga, crises de choro, autoestimulação exacerbada ou até agressividade.

Já a subdosagem mantém a criança em um estado de apatia, pouco engajada e distante da atividade. O equilíbrio é a chave para que o sistema nervoso central consiga organizar as informações e utilizá-las em favor do aprendizado motor e funcional.

Estratégias práticas para prevenir overload

  1. Leitura inicial da criança: observe sinais de desconforto (olhar de evitação, tensão corporal, irritação súbita) ou de busca ativa (movimentos repetitivos, procura intensa por estímulo). Essa leitura guia o ajuste imediato da sessão.

  2. Dosagem progressiva: inicie com estímulos mais neutros e vá aumentando gradativamente a intensidade, monitorando respostas.

  3. Ambiente controlado: evite excesso de barulhos, luzes e distrações visuais. Menos é mais para organizar o foco.

  4. Alternância de estímulos: combine atividades de excitação sensorial (como pular no trampolim) com atividades reguladoras (como compressões articulares, enrolar em colchonete ou técnicas de respiração guiada).

  5. Estratégias de autorregulação: ensinar a criança a identificar quando está sobrecarregada e buscar recursos como abraços compressivos, fidgets ou cantinhos sensoriais pode mudar a qualidade da sessão.

O olhar do fisioterapeuta neurofuncional

A intervenção não é apenas “expor a estímulos”, mas construir circuitos adaptativos no cérebro. Quando dosamos de forma adequada, estamos ajudando a criança a modular respostas, aumentar a tolerância e ampliar a participação social e funcional.

Lembre-se: não existe protocolo fechado — cada criança responde de forma única. O papel do terapeuta é ser o maestro, que afina os estímulos de acordo com a sensibilidade individual, sempre com propósito terapêutico.

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