O papel do psicólogo em UTI-Neonatal

Os avanços científicos, cada vez mais, vêm dizer de novas possibilidades no investimento de bebês extremamente prematuros, considerados "incompatíveis com a vida".

Diante da dor de muitos pais ao olharem para o filho prematuro, não conseguindo visualizar nele, um bebê, pode-se pensar como a questão do corpo remete a situações traumáticas em que a relação dos pais e seu bebê perpassam por desencontros. O fato de um filho não se parecer com um bebê vem gerar nos pais sentimentos de perplexidade tanto para quem fala quanto para quem ouve dos pais tamanha angústia. Neste momento revela-se o desamparo, diante do encontro com o bebê.

Desencontro, angústia que não se engana. Um encontro, desencontro. Um bebê com um corpo sem forma vem remeter ao inesperado: perder tão rápido aquele bebê tão sonhado.

Evidencia-se aí, um bebê, seu corpo, seus pais, uma história. Marcas e significados que remetem ao como esse bebê vem se inserir na dinâmica familiar. Sabe-se que os pais fantasiam sobre o seu bebê e quando a criança porta, associadas ao seu nascimento, palavras como prematuro extremo, possibilidade de morte, seqüelas, isso trás efeitos dessas marcas na constituição subjetiva desse bebê.

Efeitos também na relação dos pais com o bebê.  A ilusão e o sonho se chocam com a possibilidade de perder aquele que mal acabou de chegar. Muitas vezes os pais se referem ao filho como "o bebê". Bebê que ainda não tem nome, bebê que não reenvia aos pais a referência de suas próprias imagens narcísicas.  Apresenta-se aí o medo. Medo de tocar o bebê, medo da morte que se antecipou à vida que nem começou.
Medo de fazer mal ao bebê. Desamparo que remete à ausência de significado. Angústia. Há um estranho paradoxo: continuidade, mas ruptura; familiaridade, mas estranheza. O bebê é visto como estranhamente familiar. Um bebê que não parece um bebê pode sofrer de uma falta de inscrição. Falta de inscrição no tempo, no espaço, no corpo.
Faz-se necessário possibilitar um tempo para que os pais e o bebê possam construir um lugar, lugar de existência. Não importa qual, mas um lugar. Tempo de construir um sentido, de construir palavras em torno do bebê para que em seu corpo, se possa ir além de suas marcas. Tempo de compreensão.

Assim sendo, é possível pensar o papel do psicólogo neste contexto em que o inesperado irrompe, onde a dor e o desamparo estão escancarados. A escuta do analista permite que o paciente produza uma representação desse filho através de sua fala, abrindo a possibilidade de que possa ser simbolicamente sustentado no desejo dos pais, reconhecendo e nomeando o filho. O analista neste contexto, testemunha e suporta palavras de pai e mãe, que tiveram seu filho, prematuro extremo, e que mesmo este filho tendo vivido somente algumas horas, puderam vivenciar a experiência de terem sido pai e mãe.

CYNTIA RABELO GONÇALVES DE OLIVEIRA - PSICÓLOGA - CRP 32800

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